Uma mão cheia de nada


Há dias, Francisco Louçã anunciou todo satisfeito na SIC Notícias que finalmente um milhão de alunos tinham acesso a bibliotecas. O “Público” confirmava a notícia, embora acrescentasse: “Não quer dizer que todos frequentem estes espaços, mas como não existem dados centralizados sobre o número real de utentes, fica o registo impressivo da atual coordenadora da…


Ou seja, não passa de fogo-de--vista. O que não impede que Louçã se lhe refira como algo revolucionário. Para mais este ex-político que virou comentador televisivo, não interessa que os estudantes usem as bibliotecas; o importante é papaguear medidas vãs para uma sociedade inexistente.

Outra medida propagandeada à exaustão foram os manuais escolares gratuitos para os alunos do 1.o ciclo. Não interessa que tenham de devolvê-los no final do ano letivo e que, no ano seguinte, os alunos os recebam usados, numa manifesta desigualdade para os que os tiveram novos. Não interessa que nem todos os pais precisem dessa ajuda. O que importa é que se diga que todos têm manuais escolares gratuitos. 

Não estamos apenas perante o desperdício de dinheiro dos contribuintes, que se esforçam por pagar impostos altíssimos, mas perante propaganda. É um truque recorrente gastar dinheiro em algo sem retorno, mas que se vende bem politicamente. E o altruísmo, mesmo que inútil e à custa dos outros, é um filão que pessoas como Louçã exploram muito bem. Mãos cheias de nada e de coisa nenhuma. 

Advogado, Escreve à quinta-feira