Jerónimo de Sousa voltou ontem a deixar avisos ao governo sobre o Orçamento do Estado para o próximo ano. “Votaremos contra aquilo que for negativo”, disse o secretário-geral do PCP num discurso em Vialonga, reafirmando que os comunistas estão disponíveis para “examinar e propor as soluções que sejam necessárias para repor os direitos perdidos pelo povo português”.
A pressão do PCP para que o governo não faça cedências às imposições de Bruxelas tem estado presente em quase todos os discursos do secretário-geral do PCP nas últimas semanas. Em Vialonga, Jerónimo deu a receita para que esta solução governativa consiga chegar ao fim da legislatura. “A durabilidade deste governo, o caráter mais ou menos duradouro desta solução política depende fundamentalmente de saber se o governo do PS responde ou não àquilo que são os justos anseios e reivindicações do povo. O caminho foi aberto. Voltar para trás seria inaceitável.”
O secretário-geral dos comunistas está, porém, convicto de que o governo vive na “ilusão” de que é possível promover o crescimento da economia e, ao mesmo tempo, respeitar “as imposições” feitas por Bruxelas. “O governo continua com uma certa ilusão de que é possível nesta malha apertada dar um jeito, com alguma flexibilidade, e continuar uma política de desenvolvimento. Ora, não bate a bota com a perdigota e a contradição vai acentuar-se.”
Mas, apesar das limitações impostas pela União Europeia, Jerónimo garante que as medidas deste governo estão a deixar a direita furiosa. “A direita está furibunda. A cada direito reposto, a cada privatização que é travada, a direita reage com raiva e vem dizer que estão a estragar tudo o que tinham feito.”
Do lado do BE, Catarina Martins, em entrevista ao jornal “Público”, disse que “toda a chantagem está a ser feita para condicionar o Orçamento”. A líder aponta o dedo a Bruxelas, que “quer manter processos de privatizações, baixar custos de trabalho. A pressão é toda para voltarmos ao contrário”.
Catarina Martins garante que o apoio do BE não vai faltar “enquanto o PS mantiver a sua parte de continuarmos a recuperação de rendimentos do trabalho em Portugal. O BE também está aqui para dar esse apoio parlamentar que foi acordado”. E acrescentou: “O BE estará sempre disponível para negociar medidas necessárias para recuperar rendimentos. Julgo que o PS está interessado no mesmo. Não acho que esteja interessado em fazer a política da troika. Tendo nós as diferenças que são conhecidas, óbvias, não sinto que o PS queira fazer uma coisa diferente daquela que está a fazer.” A coordenadora do BE confessou que todos os dias se arrepende da criação da geringonça. “Todos os dias somos confrontados com as limitações. Agora, naturalmente, enquanto os objetivos que estiverem a ser traçados forem cumpridos, cá estamos. Com as dificuldades de todos os dias.”