Há duas maneiras de olharmos para os dados da execução orçamental: ou acreditamos nos números ou achamos que nos estão a passar a perna. Tanto num caso como no outro, a conclusão é a mesma: o modelo económico de António Costa, que prometia emprego e crescimento económico, está a falhar estrondosamente. Vejamos porquê medindo o pulso aos dois estados de espírito possíveis. Os mais escaldados pelas governações socialistas têm dito que os números deste relatório não batem certo e que o executivo está a empurrar a despesa com a barriga. Mais tarde, alguém vai pagar a conta. Há uma série de indicadores a sugerir que a razão está do seu lado. Desde logo, a coluna dos pagamentos em atraso engordou 225 milhões face ao mesmo período do ano passado. O que significa que o Estado, que, apesar de nunca ter sido bom pagador, até estava a entrar nos eixos na última legislatura, com Costa ao leme tem feito vida a pedir fiado. E depois há o país real que ainda não foi tocado pela bondade natural da coligação das esquerdas e pelo seu excecionalismo orçamental. Esse é o país das escolas sem dinheiro para água ou luz, do investimento público nos níveis mais baixos de que há memória, dos hospitais que pedem papel higiénico aos utentes ou que não pagam medicamentos. Esse é o país que “virou a página da austeridade” e que é governado pelos autoproclamados pais do Estado social. Esse é o país dos fornecedores que não recebem, dos contribuintes que estão a ver os reembolsos do IRS por um canudo, das grávidas, dos idosos e dos doentes a quem o Estado está a faltar com as prestações sociais que lhes são devidas em situações de maior fragilidade. É este o Estado social seletivo das esquerdas – a garantia de direitos para alguns é sempre feita à custa da subtração de direitos a outros tantos. A outra maneira de ver os números da execução orçamental é com os óculos dos crentes. Mas mesmo com toda a fé na capacidade do governo para atingir as metas, é impossível não constatar o óbvio: a estratégia económica deste governo está feita num oito. Costa prometeu um governo que iria fazer diferente e melhor do que o anterior. Em muitas coisas, não está a fazer diferente, e em quase todas está a fazer pior. A austeridade, por exemplo, não desapareceu de uma legislatura para a outra (ao contrário do que Costa alvitrava). A diferença é que antes sucedemos onde agora estamos a falhar. Enquanto Passos Coelho liderou a maior contração do défice, de 11,2% em 2011 para 3% em 2015, Costa está aflito para baixar oito décimas num ano; enquanto Passos quebrou os rins à dinâmica de crescimento da dívida pública, Costa voltou a dar-lhe ânimo; enquanto Passos começou a ensaiar o alívio fiscal para todos, Costa beneficiou poucos para prejudicar muitos com a maior carga fiscal de sempre num OE. A necessidade de criar emprego e de alavancar a economia também não desapareceu de uma legislatura para a outra. A diferença é que o anterior governo deixou o país a crescer 1,5%, com as exportações a baterem recordes e com a taxa de desemprego a cair, enquanto Costa prometeu fórmulas miraculosas de mais de 2% de avanço do PIB, depois de 1,8% e, agora, virada a austeridade, parece que nem em 1% toca.
Isto chega para mostrar que o modelo económico de António Costa e dos seus 12 sábios (muitos dos quais no governo) está fundamentalmente errado. Esse modelo partia da assunção básica de que mais dinheiro no bolso das pessoas ia estimular o consumo que, por sua vez, provocaria o aumento das receitas das empresas, que assim estariam mais predispostas a criar emprego e a inovar. Quando os dados da execução orçamental mostram que a cobrança de IRS, IRC e IVA está muito abaixo do esperado, toda a teoria económica do PS está a cair por terra. E porquê? A realidade é sempre complicada. E os portugueses é que estão a pagar o preço da fantasia socialista.
Quando o dirigente socialista mais bloquista de todos, e um dos sábios, assegura que é o programa do PS que está a ser implementado, eu pergunto: que programa é esse? Entre as promessas do governo e a realidade, quantos empregos vão ficar por criar? E entre as metas para o PIB postas no cenário e no programa de governo e o que temos hoje, quanto é que a economia portuguesa vai perder?
Última nota: parece que o país pode ir descansado para férias. Costa quer muito eleições, mas ainda deveremos ter um Orçamento para 2017 aprovado, como seria de esperar, pela esquerda amestrada. Contranatura, e até ultrajante para os seus eleitores, seria se Costa precisasse do voto da “direita” que excomungou para salvar o seu Orçamento de pendor social-comunista. Este é o tempo de a esquerda governar como prometeu: com estabilidade, solidez e credibilidade. Com menos desculpas, com menos truques, com menos fanatismo ideológico. Com menos olhos postos em eleições e mais atenção posta no país e nos resultados que não há maneira de surgirem.