Foi sem líder que os democratas iniciaram ontem a convenção partidária que terminará na quinta-feira com o discurso de Hillary Clinton, a candidata escolhida pelo partido para as presidenciais de 8 de novembro.
Debbie Wasserman Schultz, líder do comité nacional democrata (DNC na sigla original), anunciou a sua demissão no domingo, menos de 48 horas depois de o WikiLeaks ter divulgado os primeiros 20 mil emails de um pacote muito superior que o próprio DNC anunciara, há mais de um mês, ter sido roubado a partir da Rússia.
E as comunicações eletrónicas entre os membros do DNC confirmaram aquilo que há muito se dizia na campanha de Bernie Sanders, o rival derrotado por Hillary nas primárias: o aparelho democrata esteve sempre ao lado da candidata que acabaria mesmo por vencer.
Numa das mensagens reveladas, Mark Paustenbach, funcionário do gabinete de comunicação, mostrava ao chefe a “curiosidade em ver como Sanders vai criar uma narrativa para esta história, que mostra como Bernie nunca teve controlo, que a sua campanha é uma confusão”.
A própria Wasserman Schultz foi apanhada a responder que “Bernie nunca será presidente” quando lhe encaminharam uma das inúmeras queixas apresentadas pelo candidato durante as primárias. Para o veterano senador do Vermont, que depois de ter denunciado a parcialidade já acabou por manifestar o seu apoio a Hillary contra Donald Trump, nada disto surpreende: “Eu disse-vos há muito tempo que o DNC não defendeu uma disputa justa, que eles estavam a apoiar Clinton” disse à ABC.
Schultz, que sairá após a convenção e pretende participar na campanha de Hillary na Florida – estado que representa na Câmara dos Representantes –, foi recebida com gritos de “vergonha” numa reunião que juntou os delegados eleitos pelos dois candidatos na Florida. “Temos de garantir que seguimos em frente unidos”, disse, enquanto na plateia se ouvia em repetição a palavra “vergonha”: “As vozes que perturbam esta sala não são da Florida que nós conhecemos”, disse a ainda líder democrata.
Enquanto Sanders não aceitar a exigência dos seus mais ativos apoiantes, que pedem a revogação do apoio a Hillary, a candidata democrata poderá passar entre os pingos desta polémica. Ainda assim, o seu chefe de campanha, Robby Mook, não deixou de dizer que “não é coincidência que os emails tenham sido divulgados na véspera da convenção, o que é perturbador”. Para Mook, este é o resultado de “mudanças na plataforma republicana, que está mais pró-russa”.
Polícia critica Diretamente relacionada com as ações de Hillary está a crítica policial à sua lista de convidados. “Sra. Clinton, devia ter vergonha na cara, se isso for possível.” É assim que termina a carta aberta do presidente de um sindicato de polícias de Filadélfia, que se diz “chocado e entristecido” pelo facto de a democrata ter convidado familiares de vítimas da violência policial, mas não familiares de agentes mortos em circunstâncias igualmente violentas.
Referindo o convite que esta madrugada levará ao palco o grupo Mães do Movimento – que inclui sete mães de negros mortos às mãos da polícia, como Lezley McSpadden, mãe de Michael Brown, cuja morte provocou os tumultos de Ferguson, em 2014 –, o sindicato diz ser “triste que, para ganhar eleições, a sra. Clinton afague os interesses de pessoas que não conhecem os factos, enquanto os homens e mulheres que essas pessoas procuram destruir estão na ruas a proteger as instituições políticas do país”.
Polémicas à parte, há momentos da convenção que se aguardam com expectativa. Irá Michael Bloomberg, antigo mayor de Nova Iorque que chegou a ameaçar ser candidato independente, realmente anunciar o apoio a Hillary? Ou como vestirá Bill Clinton o papel de candidato a primeira-dama? O discurso do ex-presidente é na próxima madrugada – e ele só poderá plagiar Melania Trump se Michelle Obama não o tiver feito na primeira noite de reunião.