Há um célebre anúncio que fala numa garrafa meio cheia ou meio vazia, que varia de acordo com o ponto de vista do dono da casa ou dos convidados. Na vida, essa metáfora também se aplica em muitas situações. Quem está de um lado da barricada tem um ponto de vista sobre um assunto em questão, mas se passa para o outro lado muda, muitas vezes, radicalmente de posição. É assim e nunca vai mudar. Vemos e olhamos para os problemas de acordo com a situação em que estamos.
Vem esta conversa a propósito do congelamento – ou não aumento – dos ordenados da Função Pública no próximo ano.
Se a medida estivesse a ser preparada por um governo liderado pelo PSD, o BE e o PCP, nomeadamente através do seu braço de rua, a CGTP, já estariam aos urros e a dizer que era inaceitável as pessoas trabalharem sem serem aumentadas. Mesmo o PS defenderia que essa situação era insustentável devido aos sacrifícios que os portugueses têm vindo a fazer nos últimos anos. As manifestações estariam agendadas em série, com alguns grupos de profissionais a desfilarem em conjunto, mas também em dias separados para fazerem mais mossa na opinião pública em relação ao governo. Como é um governo liderado pelos socialistas, com o acordo do BE e do PCP, apenas se ouvem alguns comentários de dirigentes desses partidos para inglês ver.
É natural que se congelem os ordenados da Função Pública se é necessário diminuir a despesa, face aos compromissos assumidos pelo país. Penso que nenhum dirigente político gosta de anunciar medidas que prejudicam as pessoas, mas quem está ao leme do governo sabe muito bem que não há outra hipótese, até conseguirmos estabilizar as contas. Se algum dia será possível que tal aconteça, é outra questão. Mas quem se armou em forte, apesar de ser uma mosca ao pé dos donos de Bruxelas, deu-se mal. A Grécia e o seu D. Quixote Alexis Tsipras estão aí para o provar. O BE e o PCP estão a caminho de provarem do veneno que destilaram noutros anos. É a vida.