Ângelo Rodrigues “Tentei que os sonhos das crianças com quem trabalhei não fossem limitados”

Ângelo Rodrigues “Tentei que os sonhos das crianças com quem trabalhei não fossem limitados”


O ator esteve em Moçambique a dar aulas de teatro a crianças,uma experiência que o deixou de coração cheio


Foi o ano de todos os riscos, viveu com índios, falou com o irmão de Pablo Escobar em Medellín e deu aulas de teatro a crianças moçambicanas. O ator disse que precisou de fazer tudo isto para dar um novo sentido à sua vida. Representar, outros papéis, exige que demos alguma coisa nós. Ângelo Rodrigues começou desde cedo a sonhar ser ator de teatro, às crianças de Moçambique quis-lhes dizer que não confinassem os seus sonhos à realidade difícil em que vivem.

Começou a fazer teatro na escola?

A escola em que andava tinha um auditório que não era utilizado para nada. E como comecei a aceder à cultura e ao teatro, na minha zona, tentei transportar isso para a escola.

É de que zona?

Sou do Porto, mas morava perto de Espinho, na prática sou de Vila Nova de Gaia, mas comecei a fazer teatro no concelho de Santa Maria da Feira porque a minha escola era de lá. Então propus à diretora fazer algumas peças de teatro em que fazia quase tudo: escrevia, encenava e protagonizava com a turma. Até que passei a integrar uma companhia de teatro semiprofissional em Santa Maria da Feira e foi aí que comecei a levar o teatro mais a sério.

E porquê que se interessou por teatro?

Talvez tenha sido a minha família: a minha tia é uma das fundadoras da Seiva Trupe no Porto e portanto acho que foi um bocado influência genética.

Depois veio para Lisboa para a Faculdade de Letras?

Sim, a partir dos meus 16 anos dizia aos meus pais que ia para Lisboa. Eles nunca acreditaram em mim, porque diziam que eu estava a brincar, achavam que era uma parvoíce mas eu vim mesmo.

E porque razão?

Porque já sabia que o mercado das coisas que eu trabalho é muito mais forte aqui. Infelizmente as coisas estão centralizadas na capital. O meu desejo era representar. Na minha área há teatro, cinema e televisão. Há algumas companhias de teatro no Porto, mas aqui há muito mais e sobretudo mais cinema e televisão. Não tive grandes dúvidas, até porque a minha própria tia já tinha feito isso aos 18 anos, entretanto começou a fazer mais peças de teatro e novelas. Acabei de seguir as pisadas da minha tia.

Mas antes já tinha feito figuração para uma novela e pagando as viagens do seu bolso?

Sim, queria de alguma forma absorver as coisas do meio, e na altura surgiu a possibilidade de fazer uma novela passada na Figueira da Foz, e literalmente todo o dinheiro que ganhava gastava nas deslocações: do Porto à Figueira da Foz. Tinha que apanhar dois comboios, o Alfa Pendular até Coimbra e um comboio normal até à Figueira da Foz. Todo o dinheiro que ganhava era para pagar os transportes. Já era qualquer coisa do bicho da representação.

E como foi a experiência?

Era ótima porque não era o figurante habitual. Estava sempre atento à forma como as coisas eram feitas, como é que as câmaras eram colocadas, como é que os realizador dirigia os atores, como é que os atores se comportavam em plateau: no fundo estava a fazer um mini estágio, na adolescência, sobre aquilo que queria fazer.

Vai para Lisboa estudar, mas acaba por não estar muito tempo em Letras.

Comecei a trabalhar em televisão, e foi logo um projeto na RTP2 que eu protagonizava e que me ocupava muito tempo, e porque não estava assim tão satisfeito com o curso – não era exatamente o que queria, desejava uma coisa vocacionada para o teatro, e o curso era muito genérico. Acabei por deixar Letras e depois acabei por tirar outros cursos: primeiro o de realização na ETIC, foi uma coisa que fiz durante um ano, e depois achei que devia isso a mim próprio e fui para o Conservatório tirar a licenciatura.

Depois da RTP2 passou para as novelas?

Acabou de ser o percurso natural. Na altura o laboratório da TVI eram “Os Morangos com Açúcar”. Dei o salto da RTP2 para a TVI e fui fazer os “Morangos com Açúcar” .

E como foi essa escola?

Não foi fácil. Tenho boas experiências e menos boas. Nós somos de facto atirados aos leões. Não temos muita formação e o facto de sermos trinta cães a um osso pode refletir-se no ambiente de trabalho, que se torna um bocadinho competitivo demais para o que queria. Mas é natural, temos 19, 20 anos e percebemos que depois dali o mercado é um funil. 

Os “Morangos com Açúcar” não promovem uma certa formatação para o mesmo tipo de atores em que o critério é o seu físico?

Percebo o que está a dizer, os “Morangos” na altura pegavam em muita gente que não tinha formação, mas tinha uma boa imagem. Se calhar isso obriga-nos a uma outra conversa que é a ditadura da imagem na televisão, que se calhar permite a pessoas, com menos qualificação vingar no mercado. Tento ser menos preconceituoso, porque tenho uma formação legítima, sou licenciado, e posso falar à vontade sobre isso: na minha opinião toda a gente merece uma oportunidade para errar ou fazer bem. Há talentos que se descobrem nesses moldes.

Como é assistir a uma master class com Cronenberg?

(Risos) Foi uma brincadeira, mas sou bastante cinéfilo e gosto muito de cinema, o Cronenberg é uma referência para mim. E aproveitei ele ter vindo ao Lisboa Estoril Film Festival para ir. Foi uma master class com 50 pessoas, daquelas muito gerais, mas foi engraçado acompanhar um pouco da história do seu cinema, desde o “Crash” que ele realizou nos anos 80, até à “Mosca”, que é um filme que gosto muito. 

Pessoalmente prefiro o “Crash” e a “História de Violência”…

É mais recente, mas também o acho um filme brutal. Tenho uma enorme admiração pelo olhar dele.

Depois dos “Morangos” começou a fazer novelas em série…

(Risos) Novelas em novela…

É quase um horário de fábrica…

São de facto 12 horas de trabalho diárias e nove meses que não se consegue praticamente fazer mais nada. É acordar muito cedo e gravar e quando é um projeto com um dos personagens principais é um trabalho das oito às oito não tens vida social mesmo. Há pessoas que admiro que têm a qualidade de pegar os textos antes da cena e de a fazer na perfeição, essa é uma qualidade que não tenho. Não sou tão virtuoso. É acabar as 12 horas de trabalho e ir para casa estudar umas 20 ou 30 páginas, para as saber de alguma forma, e no dia seguinte estar acordado às seis da manhã. Só dá espaço para fazer um jantar, estudar enquanto se come, e depois dormir.

No entanto, fartam-se de sair nas revistas sociais, como é que conseguem esse dom da ubiquidade?

Falo no meu caso, há pessoas que fazem uma gestão melhor das coisas e até conseguem sair durante a semana. Eu no máximo consigo sair so fim de semana e faço um programinha para desanuviar. Mas é o máximo dos máximos que consigo. 

Não é stressante estar sempre na montra?

É um bocado. Claro que há muita coisa que esperam de nós, esquecendo que o facto de a gente encarnar aqueles papéis, durante vários anos, não lhes permite esperar certas coisas de nós. As pessoas esperam que tenhamos não só um discurso articulado mas que tenhamos os valores em dia, e façamos sempre a coisa correta na hora certa, mas nós somos pessoas iguais às outras.

Mas não se sente um bocado explorado pelas revistas?

Sinto-me de vez em quanto, e isso não me agrada nada. Por isso é que há alguns anos decidi resguardar-me completamente e achar que a única “comunicação” é do meu trabalho e não da minha vida pessoal. Mas compreendo também a comunicação social: pelos vistos o trabalho não vende muito e aquilo que vende mais são os mexericos. Consigo respeitar o trabalho de certa imprensa, mas não gosto quando não respeitam a vida das pessoas.

Como é que vai parar à prisão de Bangu [prisão de alta segurança brasileira em que começou o Comando Vermelho]?

Fui fazer o Erasmus no Rio de Janeiro.

Bangu já tem universidade (risos)?

Calma, fui mesmo fazer Erasmus no Rio, e Bangu faz parte do Estado do Rio de Janeiro. Não é bem Erasmus, porque isso é só na Europa, mas é o equivalente, chamada mobilidade internacional. Fui lá fazer o terceiro ano da minha licenciatura. E porquê que fui para lá? É que à semelhança do ensino norte-americano, no Brasil é possível escolher as disciplinas que te agradam. Ao contrário da Europa em que os cursos são mais estruturados e estanques. A mim o que me interessava era escolher as disciplinas que queria para me tornar no ator que quero ser. Nesta faculdade se queres ser ator de musical podes escolher as disciplinas de canto, voz e música. Resumindo, fui para lá de espírito aberto e escolhi disciplinas como ballet clássico… coisa que nunca tinha feito.

E fazia bem?

Dentro dos possíveis. Foi fixe ter feito lá, aqui ia ser complicado, se calhar não me conseguiria desmontar da minha timidez. A outra disciplina que eu escolhi chama-se: teatro e o enclausuramento, o objetivo era termos aulas durante três meses para depois darmos aulas, uma vez por semana, aos presos em Bangu. Foi fascinante, foi uma chapada que levei na vida e nos meus preconceitos. É muito enriquecedor e transformador: estava a dar aulas a presos que achavam, (a pessoas, chamar-lhes presos já os estou a discriminar), que as aulas de teatro eram o momento mais alto da semana. Elas diziam-me isto: “obrigado, por teres vindo, porque é o melhor momento da semana”. Eles inscreviam-se nas celas, cada semana que passavam tinha mais alunos. E eu numa roda de braço dado podia estar ao lado de um traficante, de um assassino ou de um violador, e aí é que entrava em conflito com os meus próprios preconceitos: nós estamos habituados a ostracizar a diferença e a não nos querermos dar com pessoas que fizeram merda e estiveram presas. E de repente não podia estar a olhar para os crimes que eles tinham cometido. Naquele momento só valia o teatro e isso era completamente transformador. 

E como fazia isso?

Através de jogos de inibição, de espírito de grupo e escutando-os….

E depois criavam uma peça?

O objetivo final era esse, criar uma peça a partir das histórias que eles contavam e da sua experiência. É sempre a melhor forma, há pouco tempo em Moçambique fiz a mesma coisa, é sempre melhor criar um texto a partir de uma experiência que é própria dos alunos, do que lhes impingir um texto e dizer: “agora tens de fazer isto”. 

Mas havia limitações nesse trabalho na cadeia de Bangu?

Tantas. Não tem noção. Não podiam entrar câmaras, não podia usar roupas demasiado justas, nem podia usar branco, nem preto, nem verde: branco porque era a cor deles, preto e verde eram os guardas. E tudo era revistado. No dia da peça, quisemos levar um bolo grande, e o bolo foi todo dilacerado pelos guardas: retalhado à faca e colocaram as mãos lá dentro para ver se transportava alguma coisa. A propósito da peça, nós estávamos a explorar um método que realça os processos de opressão e a existência de oprimidos, o chamado “teatro do oprimido”, e claro que eles sentiram-se muito próximos dessa corrente e a peça que eles criaram fala dos presos que se revoltam contra a polícia. Era uma espécie de grito do Ipiranga, e eles colocaram uma condição: só fazemos a peça se nenhum guarda prisional a ver. Eles sofrem muito lá dentro, aquilo foi quase um 25 de Abril: disseram que só faziam a peça se não houvesse censura nenhuma e os guardas não pudessem ver. E assim foi.
Nós éramos sempre três formadores, e só havia uma mulher, e ela só podia ir no máximo 15 dias lá, porquê? Na formação que temos é-nos dito para não criarmos nenhuma afinidade com os presos, porque eles inconscientemente vão tentar criar um elo com o mundo cá fora. E com as mulheres, como eles não têm muito contacto com elas na prisão, acabam por assediar as miúdas e pedirem-lhes o número de telefone, e algumas mais ingénuas davam, e eram assediadas cá fora, ou quando eles saiam tentavam ir ter com elas. Mas foi uma experiência riquíssima, Bangu não é só uma prisão, é um complexo prisional, e uma delas é a UMI (Unidade Materno Infantil), que é só para as presas que acabaram de ter filhos ou estão grávidas. Elas souberam que havia um português a dar formação e então pediram que eu fosse apresentar um desfile de mães. Mandei-me aos leões, e então a experiência foi fantástica, naquela prisão a relação entre presas e guardas é completamente diferente: nesse dia do desfile, estavam as guardas a passar a chapa no cabelo das presas, a maquilhá-las, a emprestar os vestidos às detidas. E depois eu apresentava o desfile: “agora a Ana Maria , tem quatro filhos (tinham sempre carradas de filhos)” e depois entravam elas com os filhos, e os jurados eram o psicólogo da prisão, o diretor da IMI e o do complexo prisional… era tudo assim, uma experiência surreal. 

É muito diferente viver no Rio de Janeiro?

 Eu continuo lá. Ando lá e cá. É diferente, são outras regras. É América do Sul. O valor que eles dão há vida humana é completamente diferente que na Europa. É preciso outros cuidados.

Vive em condomínio fechado ou circula à vontade?

Ando por todo o lado, até porque não tenho carro. Ando a pé, morava na zona sul, faço tudo a pé, tens que jogar o jogo deles: não levo relógios, nem fios, e tento não andar com coisas muito vistosas. É mesmo chinelo no pé, calção, e o mais despercebido possível. Não falo português de Portugal lá, senão eles não percebem. Às vezes tento disfarçar, mas com pouco sucesso, que eles olham para mim e dizem: “este gajo é europeu”. Tenho uma vida normalíssima lá, mas há muita insegurança e o crime é muito violento. O que as pessoas se esquecem é que são oito milhões de pessoas, é muita gente no Rio de Janeiro, as notícias que nos chegam cá, não têm em conta que a quantidade de gente era como ter Portugal todo numa cidade. Quando aqui ligas o Telejornal só vês desgraças, agora imagina meter Portugal todo numa cidade, claro que vai haver merda. Agora vai haver as olimpíadas e eles declararam uma espécie de estado de sítio na cidade, porque não estão preparados para os Jogos Olímpicos, eu também acho que não estão.

Como viu as convulsões políticas no Brasil com a saída da Dilma…

Está tudo muito quente, evito falar de política lá, porque está tudo a ferver: há pessoas que eram favoráveis ao impeachement, outras que foram mas agora estão contra o Temer, e contradizem-se a elas próprias. A maior parte das pessoas diz que o Brasil é um polvo de corrupção que nunca terá solução, eu sou mais dessa opinião. Outros culpam os portugueses pela corrupção, nós quando fomos para lá teríamos levado este espírito de cunhas e compadrios, como se fosse nossa a responsabilidade do que eles fazem agora. Resumindo, tento não falar de política.

Tem normalmente opiniões políticas?

Tento normalmente ser o mais apolítico possível. 

Porquê, com uma tia na Seiva Trupe e tudo…

É verdade, a minha tia sempre foi muito ativista e de esquerdas. Eu tenho a minha ideologia, mas prende-se só com uma coisa: não acredito em ninguém. Quando houver alguém em que acredito terá o meu voto. Quando houver um Obama cá, com o que ele diz apesar de todos os lóbis que ele tem de contornar, talvez me interesse mais por política.

Estive a ler as peças clássicas que representou super políticas….

Mas estou a representar um papel. 

Mas não acredita naquilo que lê? Quando representa Heiner Muller não há nada do texto que fique dentro de si para além da peça?

Claro, mas isso é o meu trabalho de ator, tenho que acreditar naquilo que digo. Mas depois largo o papel e vou para casa.

Mas se fosse a declaração de imposto complementar acreditava da mesma maneira?

(Risos) Não vou dizer que me pagam para isso que isso soa muito mal. Mas é mesmo assim, a minha realidade naquele momento é aquela, a partir do momento que desligo o botão, claro que pode ficar alguma coisa, há alguns momentos que podem ser transformadores, mas a peça acabou. Mesmo que ache que o “Hamlet” do Heinner Muller seja muito à frente.

Se pega no “Prometeu Agrilhoado”, do Ésquilo – um mito fundador da nossa cultura que relata um homem que foi castigado por ter entregue o fogo à humanidade – não lhe fica nada dessa revolta?

 Fica muita coisa. O meu trabalho é ir buscar experiências e vivências. Cada peça faz-me mais rico. Mas ainda não aconteceu ter feito uma peça e ter mudado para extremista ou ter mudado a vida. Mas pode acontecer. Consigo separar bem as coisas.

Fez um curso de realização, nunca pensou passar para o outro lado?

Claro que sim, porque razão teria feito um curso de realização se não fosse essa a minha intenção? Claro que a curto prazo permite-me melhorar a minha prestação de ator, mas a médio prazo, não tenho pressa, é também isso que quero fazer. Vim agora de Moçambique e tenho nove horas de documentário, feito só com uma câmara, para editar. Acabo por transportar os ensinamentos deste curso para os novos projetos.

Como vai para Moçambique?

Este ano cheguei à conclusão que, vai parecer esquisito, não queria fazer coisas porque sim, mas queria fazer coisas porque sim. Queria fazer coisas que me transformassem e que tivessem impacto em mim. Isso começou na Amazónia quando estive com os índios, aquilo teve um enorme impacto em mim. 

Quanto tempo esteve na Amazónia?

15 dias.

Mas isso foi uma transformação rápida, como isso é possível?

Foi mesmo possível, fiz sobrevivência. Fui largado na Amazónia, com uma pessoa de lá, e durante 15 dias tive que sobreviver. Ensinou-me a pescar piranhas. Sopa de piranha é muito bom. O culminar dessa experiência foi passar umas noites com os índios. 

Se fosse uma revista social já tinha título: “passei algumas noites com os índios”…

Já podíamos acabar a entrevista (risos), tipo o amor aconteceu. Mas essa vivência fez com que reequacionasse a minha vida. Dai ter recusado alguns projetos em Portugal, fui para a Colômbia…

Fazer o quê?

Vocês não gostam de séries? Eu vi “O Narcos”, tinha um amigo que mora lá e fui. Passei um dia com o irmão do Pablo Escobar em Medellín. Tenho tido um ano fantástico: estive como os índios, falei com o irmão do Pablo Escobar e fui dar aulas de teatro às crianças em Moçambique. Fiquei tão marcado com a pureza dos índios que queria ajudar de alguma forma. Surgiu uma oportunidade de trabalhar com uma ONG que atua em Moçambique. Como tenho formação de teatro, fui dar aulas de teatro a três turmas: duas com miúdos de 5 anos e outra com miúdos de dez anos. Levantava-me às 7 da manhã e tinha aulas até às 4 horas da tarde, altura em já era de noite. 

E como foi essa experiência?

Muito trabalhosa. Tinha três tarefas: as crianças de 5 anos, as de 10 anos – as coisas que usava nas de 10 não funcionavam nas de 5, em que o raciocínio abstrato está muito menos desenvolvido – , e dar formação as monitoras. Isso tudo era imenso trabalho, o objetivo final era também fazer uma peça final.

E donde é que surge a ideia de cada vez que os miúdos veem uma câmara gritarem : “banana”?

Viu o vídeo (risos). Os miúdos eram muito tímidos, então ensinei-lhes um truque: “sempre que vejam uma câmara digam: ‘banana’ e ficam sempre bem e a sorrir”. Resultado, sempre que viam uma câmara desatavam aos gritos a dizer: “banana, banana” (risos). Fui partilhar a minha formação para dar algumas ferramentas de trabalho com os putos. Foi muito engraçado, que depois da minha estada lá, a ONG mandou-me uma fotos em que se veem as educadoras a usar os meus exercícios. Trouxe um coração completamente cheio. São crianças que têm muito pouco e o conceito de sonho deles é muito diferente. Quando lhes perguntas pelos sonhos deles, eles não têm grandes sonhos. Muita gente do distrito de Nampula, que é um distrito com praias, nunca viram sequer o mar. Tentei contribuir para que os seus sonhos não sejam confinados à sua vida atual.