Sanções? Pois claro!


O espetáculo patrioteiro em curso mostra bem que o Portugal democrático de 2016 não mudou nada em relação ao Portugal fascista de Salazar. Só mudaram as moscas e os alvos. Nos anos 60 eram as manifestações patrióticas e nacionais em defesa das colónias. Agora são as lamúrias e os gritinhos de indignação em defesa do…


Fazem o mal e a caramunha. Portugal entrou no euro em 2002 com foguetes e grandes festas, notas novas nos bolsos e a promessa de grandes prosperidades. Os portugueses foram intoxicados com as vantagens, ninguém os avisou dos perigos. As poucas vozes que saltaram para a praça pública a criticar o fim do escudo foram convenientemente abafadas pelo pensamento único. O país, com os políticos na vanguarda, comportou-se como um novo rico e o resultado está à vista 14 anos depois. Economia estagnada, dívida pública em alta, défices sempre acima dos 3% e, claro, a bancarrota de 2011. Os políticos portugueses fazem o mal e a caramunha e arranjam sempre desculpas esfarrapadas para justificar políticas erradas, medo de reformar um Estado e uma sociedade que, manifestamente, não se recomendam, uma economia habituada ao protecionismo que odeia a concorrência e a globalização. Os sucessivos fracassos de Portugal desde o 25 de Abril têm sido sempre justificados por fatores externos. As três intervenções externas em 42 anos de democracia nunca tiveram responsáveis e, muitas vezes, os criminosos voltaram ao local do crime impunemente. Agora, o melodrama nacional são as hipotéticas sanções que a União Europeia, através dos ministros das Finanças dos Estados-membros, poderá aplicar a Portugal. A culpa, dizem os golpistas da geringonça, é do governo do PSD e CDS, que não conseguiu um défice nominal abaixo dos 3% em 2015 e muito menos respeitou o compromisso de reduzir o défice estrutural. E têm toda a razão. O governo de Passos e Portas e da pesporrente Maria Luís Albuquerque, que anda a apanhar muito sol na moleirinha, não cumpriu o plano de resgate praticamente desde que tomou posse. Devia reduzir o défice com cortes na despesa, vender empresas públicas, libertar-se do peso obsceno dos transportes públicos, fechar câmaras e freguesias, acabar com a brutal burocracia estatal, abrir as portas ao capital estrangeiro e tratar do setor financeiro. Fez tudo ao contrário. Aumentou brutalmente os impostos, só conseguiu alienar as boas empresas públicas, embrulhou-se na venda da TAP e nas concessões dos transportes de Lisboa e Porto, fez uma reforma pífia nas freguesias e deixou a banca num desastre, como se viu no caso do Banif e se está a ver com o escândalo da Caixa Geral de Depósitos. A saída limpa do resgate em maio de 2014 foi uma golpada política feita com a cumplicidade das autoridades europeias e o país voltou ao que sempre foi até às eleições do outono de 2015. É, por isso, perfeitamente legítimo que Portugal seja fortemente castigado pelo laxismo criminoso do anterior governo. Como é legítimo que as autoridades europeias olhem para este governo da geringonça como um bando de irresponsáveis que vai atirar o país para um terceiro resgate, com consequências desastrosas para os portugueses. Podem argumentar Marcelo, Costa, Catarina, Jerónimo, Passos e Cristas que Bruxelas sempre deixou os países pisarem o risco, fossem grandes ou pequenos. É verdade. Mas os tempos são outros e a União Europeia e o euro só sobrevivem se impuserem aos seus membros uma disciplina férrea. É claro que os países têm sempre a alternativa de se libertarem das regras europeias e da moeda única. Os britânicos abriram, como sempre, o caminho e mostraram aos outros povos que em democracia há sempre alternativas, melhores ou piores, mais fáceis ou mais difíceis. O que é perfeitamente ridículo é este movimento tipo união nacional, patrioteiro, que Marcelo, Costa e companhia estão a promover. Contras as sanções marchar, marchar é o lema atual do poder político, com a extrema--esquerda nacionalista a julgar e a condenar na praça pública quem não alinha nestas manifestações de desagravo contra Bruxelas. Este movimento bacoco e patrioteiro não é diferente das manifestações de desagravo promovidas pelo Estado Novo em defesa das colónias. Se não querem cumprir as regras do euro, façam um referendo e perguntem ao povo se quer voltar ao escudo. Se querem manter o Estado monstruoso, façam um referendo e perguntem ao povo se os défices brutais são fundamentais para a sobrevivência de Portugal. Se querem um Estado e uma economia salazarentas, façam um referendo e perguntem ao povo se quer ficar orgulhosamente sozinho. Mas se têm medo de ouvir o povo, deixem-se de manhosices bacocas e salazarentas. Cumpram os tratados, façam reformas, reduzam o défice e a dívida externa. Se falharem, não se queixem. Levam sanções, mais ou menos pesadas, e arriscam–se, de facto, a novo resgate. Schäuble tem razão. Portugal está por um fio. Sem o BCE a comprar dívida, a troika já cá estava. Com a foice e o martelo na mão.

Jornalista


Sanções? Pois claro!


O espetáculo patrioteiro em curso mostra bem que o Portugal democrático de 2016 não mudou nada em relação ao Portugal fascista de Salazar. Só mudaram as moscas e os alvos. Nos anos 60 eram as manifestações patrióticas e nacionais em defesa das colónias. Agora são as lamúrias e os gritinhos de indignação em defesa do…


Fazem o mal e a caramunha. Portugal entrou no euro em 2002 com foguetes e grandes festas, notas novas nos bolsos e a promessa de grandes prosperidades. Os portugueses foram intoxicados com as vantagens, ninguém os avisou dos perigos. As poucas vozes que saltaram para a praça pública a criticar o fim do escudo foram convenientemente abafadas pelo pensamento único. O país, com os políticos na vanguarda, comportou-se como um novo rico e o resultado está à vista 14 anos depois. Economia estagnada, dívida pública em alta, défices sempre acima dos 3% e, claro, a bancarrota de 2011. Os políticos portugueses fazem o mal e a caramunha e arranjam sempre desculpas esfarrapadas para justificar políticas erradas, medo de reformar um Estado e uma sociedade que, manifestamente, não se recomendam, uma economia habituada ao protecionismo que odeia a concorrência e a globalização. Os sucessivos fracassos de Portugal desde o 25 de Abril têm sido sempre justificados por fatores externos. As três intervenções externas em 42 anos de democracia nunca tiveram responsáveis e, muitas vezes, os criminosos voltaram ao local do crime impunemente. Agora, o melodrama nacional são as hipotéticas sanções que a União Europeia, através dos ministros das Finanças dos Estados-membros, poderá aplicar a Portugal. A culpa, dizem os golpistas da geringonça, é do governo do PSD e CDS, que não conseguiu um défice nominal abaixo dos 3% em 2015 e muito menos respeitou o compromisso de reduzir o défice estrutural. E têm toda a razão. O governo de Passos e Portas e da pesporrente Maria Luís Albuquerque, que anda a apanhar muito sol na moleirinha, não cumpriu o plano de resgate praticamente desde que tomou posse. Devia reduzir o défice com cortes na despesa, vender empresas públicas, libertar-se do peso obsceno dos transportes públicos, fechar câmaras e freguesias, acabar com a brutal burocracia estatal, abrir as portas ao capital estrangeiro e tratar do setor financeiro. Fez tudo ao contrário. Aumentou brutalmente os impostos, só conseguiu alienar as boas empresas públicas, embrulhou-se na venda da TAP e nas concessões dos transportes de Lisboa e Porto, fez uma reforma pífia nas freguesias e deixou a banca num desastre, como se viu no caso do Banif e se está a ver com o escândalo da Caixa Geral de Depósitos. A saída limpa do resgate em maio de 2014 foi uma golpada política feita com a cumplicidade das autoridades europeias e o país voltou ao que sempre foi até às eleições do outono de 2015. É, por isso, perfeitamente legítimo que Portugal seja fortemente castigado pelo laxismo criminoso do anterior governo. Como é legítimo que as autoridades europeias olhem para este governo da geringonça como um bando de irresponsáveis que vai atirar o país para um terceiro resgate, com consequências desastrosas para os portugueses. Podem argumentar Marcelo, Costa, Catarina, Jerónimo, Passos e Cristas que Bruxelas sempre deixou os países pisarem o risco, fossem grandes ou pequenos. É verdade. Mas os tempos são outros e a União Europeia e o euro só sobrevivem se impuserem aos seus membros uma disciplina férrea. É claro que os países têm sempre a alternativa de se libertarem das regras europeias e da moeda única. Os britânicos abriram, como sempre, o caminho e mostraram aos outros povos que em democracia há sempre alternativas, melhores ou piores, mais fáceis ou mais difíceis. O que é perfeitamente ridículo é este movimento tipo união nacional, patrioteiro, que Marcelo, Costa e companhia estão a promover. Contras as sanções marchar, marchar é o lema atual do poder político, com a extrema--esquerda nacionalista a julgar e a condenar na praça pública quem não alinha nestas manifestações de desagravo contra Bruxelas. Este movimento bacoco e patrioteiro não é diferente das manifestações de desagravo promovidas pelo Estado Novo em defesa das colónias. Se não querem cumprir as regras do euro, façam um referendo e perguntem ao povo se quer voltar ao escudo. Se querem manter o Estado monstruoso, façam um referendo e perguntem ao povo se os défices brutais são fundamentais para a sobrevivência de Portugal. Se querem um Estado e uma economia salazarentas, façam um referendo e perguntem ao povo se quer ficar orgulhosamente sozinho. Mas se têm medo de ouvir o povo, deixem-se de manhosices bacocas e salazarentas. Cumpram os tratados, façam reformas, reduzam o défice e a dívida externa. Se falharem, não se queixem. Levam sanções, mais ou menos pesadas, e arriscam–se, de facto, a novo resgate. Schäuble tem razão. Portugal está por um fio. Sem o BCE a comprar dívida, a troika já cá estava. Com a foice e o martelo na mão.

Jornalista