Radiohead. No final todos somos Creep

Radiohead. No final todos somos Creep


Thom Yorke e Ed O’Brien eram os reis anunciados do segundo dia de NOS Alive, num palco por onde antes tinham passado os cada vez maiores Tame Impala e Foals.


Tudo o que se quer quando já se leva um dia de festival no corpo é um palco principal que feche cedinho. Na véspera The Chemical Brohers tinham começado à uma e sugado quase tudo o que havia da energia sempre muito necessária para o after party em que se transformam os palcos secundários depois do cair do pano. 

Pois Radiohead ajudaram. Princípio calmo mas seguro, com “Burn the Witch”, “Daydreaming”, a seguir esta a que já podemos chamar terceira “Decks Dark”, depressão pós-rock género Terra chama Radiohead (ou Radiohead chamam Terra), para aquecer corações, mas só isso, numa noite que se põe cada vez mais fria.

Isto até “Ful Stop”, que aí a conversa começa a ser outra. Duas horas de concerto dão para fazer o que se quiser com ele. “My Iron Lung”, “Talk Show Host”, “Lotus Flower”, "Everything In Its Right Place”, a provarem-nos que tudo está no seu lugar,  “Idioteque”, "The Gloaming” e o desaparecer com “Street Spirit”, para um encore, claro, com direito a uma viagem aos anos 90 de “Computer”, com “Paranoid Android”, “Nude” e “There There”.

Para os distraídos a noite já tinha acabado, na verdade já podia ter acabado mesmo, mas é aí que Thom Yorke e Ed O’Brien regressam para segundo encore e se ouve o princípio de “Creep”. São 00h45, hora em que já se vai dispersando, mas “Creep” é chamamento para um recinto inteiro que corre para o palco e canta, a provar que a Radiohead afinal pertencemos todos. E isto já chegava, já, mas ainda houve “Karma Police”, Thom Yorke em guitarra acústica. No final Radiohead deram tudo, e o público devolveu.

Depois disto ainda houve festa, e muita, num Heineken que se sabe pequeno mas para onde a multidão insiste em migrar nestes finais de noite. Mas mais empurrão, menos empurrão não importa. São Two Door Cinema Club a arrancarem-nos os passos que até aqui estavam contidos, ao mesmo tempo que Da Chick aterra no  Clubbing de fato espacial para um strip transformado em batalha funk, “que isto aqui não é para cortar os pulsos, meus putos, isto aqui é para dançar mesmo forte”, pegar ou largar. 

"Eu estou a ver-vos"

Ainda haveria Hot Chip no mesmo Heineken (o mesmo onde à tarde tinha atuado Courtney Barnett), synthpop vindo de Londres que fica sempre bem naquele final de noite em que já quase não sobra ninguém, quando a zona do Palco NOS é um enorme deserto de copos de plástico onde à tarde tinham atuado também Tame Impala. Concerto que podia ter sido o da noite não fossem os Radiohead — e se lhes tivessem dado tempo, que os australianos bem se queixaram. “Só nos deram uma hora, esta tem mesmo que ser a última”, dizia Kevin Parker antes de “New Person, Same Old Mistakes”, décima primeira sem direito a encores, numa hora que soube mesmo a muito pouco mas onde os australianos souberam pôr tudo aquilo de que precisávamos para sermos felizes. 

Primeiro “Nangs” como introdução para a apetecível “Let It Happen”, depois “Why Won’t You Make Up Your Mind?”, “The Moment” e “Elephant” a cairem à hora do jantar, “The Less I Know The Better”, numa hora que foi também muito sobre soutiens. “Estou a ver-vos, Lisboa, olhem que eu vejo o que estão a fazer aí em baixo… a despirem-se em frente à câmara? Nós também podemos tirar as nossas roupas”, ria-se Parker como introdução para “Feels Like We Only Go Backwards”.

Antes dos australianos, senhores de um dos grandes momentos da noite, tinha havido Foals, que parecem ser os tipos perfeitos para estas andanças festivaleiras de verão. Desde 2011 que não punham os pés no Alive e esta sexta-feira vieram apresentar o novo álbum "What Went Down" (2015) a um público composto grande parte por estrangeiros que, não os tivesse o vento empurrado para longe do palco, tinham ido abanar a cabeça com estes "Mountain at my Gates" e "What Went Down". 

Foram estas duas músicas estreantes que fizeram suar mais aqueles que decidiram imitar a camisa às flores do vocalista Yannis Philippakis, que, já com o concerto a acabar, avisou que depois de arrumar os instrumentos musicais era hora de beber cerveja. As meninas na planteia? Bom, entre abanar a anca e sorrir com a melancolia de "Spanish Sahara", foram elas que ajudaram a dar as boas vindas ao regresso da banda inglesa ao Passeio Marítimo de Algés.

Parece que tudo que vem destes rapazes soa melhor de phone no ouvido mas, a bem dizer, o verão está aí e queremos todos ir com Foals dar os primeiros mergulhos. Isso e pagar a primeira rodada.