Crise. Angola obriga produtores  de vinho a procurar  novos mercados

Crise. Angola obriga produtores de vinho a procurar novos mercados


Nos primeiros meses de 2016, as exportações dos vinhos alentejanos para Angola sofreram nova queda, depois de em 2015 o cenário já ter sido de perdas acentuadas. Agora, produtores focam-se na qualidade e procuram oportunidades na Ásia 


Quando falamos de vinho português, é cada vez mais inevitável encontrar alguns termos de comparação com o azeite nacional – produtos que tentam vencer pela história e pela qualidade, numa altura em que as apostas no mercado gourmet não param de crescer. No entanto, não há bela sem senão e existe cada vez mais necessidade de reajustar o negócio à crise que se faz sentir em alguns mercados que figuravam como os mais importantes para este produto nacional, nomeadamente Angola e Brasil.

De acordo com os dados divulgados pela Comissão Vinícola Regional Alentejana, as exportações dos vinhos do Alentejo caíram 4% no primeiro trimestre de 2016, tendo as exportações para Angola registado uma queda acentuada de 54%.

Já no ano passado, as exportações de vinho português para Angola atingiram apenas 72,5 milhões de euros, o que significa um decréscimo de 24% em valor face ao ano de 2014. Mas também em termos de volume houve recuos. De acordo com os dados da Associação Nacional dos Comerciantes e Exportadores de Vinhos e Bebidas Espirituosas (ANCEVE), as vendas para este país africano caíram 17% em 2015, enquanto o preço médio registou uma diminuição de 9,0%.

Este cenário obriga os produtores a experimentarem novas realidades e a apostarem em força em mercados alternativos. Apesar da quebra no mercado angolano, a reduzida diminuição de vendas a nível mundial indica que os vinhos alentejanos encontraram outras alternativas para escoar o produto. E há quem já tenha começado a apostar em novos mercados. 

Um bom exemplo desta tentativa de compensar a perda de terreno em mercados que eram até agora prioritários é a Herdade do Monte da Ribeira, cujos vinhos já se encontram presentes em 12 países: China, Moçambique, Brasil, EUA, Canadá, Alemanha, Suíça, Bélgica, Holanda, Reino Unido, Polónia e República Checa.

Esta casa agrícola viu os seus vinhos serem reconhecidos pela “Revista de Vinhos”, que este ano a elegeu Produtor Vinícola do ano.

Ao i, António Nora, diretor de vinhos da Herdade do Monte da Ribeira, explica que “a situação em Angola trouxe muitas dificuldades a quem apostou nesse mercado, até porque coincidiu com a crise nos mercados moçambicano e brasileiro, que eram importantes para os produtores nacionais”.

Nestes países deixou de ser viável continuar a fazer uma aposta, o que obriga agora os produtores nacionais a procurarem alternativas em mercados que se tornam cada vez mais promissores, como os EUA, Canadá ou China.

“Durante anos, a aposta foi feita em países de língua portuguesa e isso fez com que as costas ficassem voltadas para países asiáticos, que nos aceitam bem e por onde é o caminho”, acrescenta António Nora. 

Qualidade é o caminho No meio da tentativa de arranjar alternativas para internacionalizar os vinhos, os produtores nacionais focam-se na qualidade deste produto. “A notoriedade dos vinhos do nosso país tem sido evidente nos últimos anos. E esse é o caminho. Temos de apostar na qualidade, e não nos vinhos de primeiro preço. É importante que os vinhos contem a história do nosso país. Para conseguirmos apostar mais nas exportações é necessário dourar a pílula”, avança ainda o responsável por esta casa agrícola.

É por ser tão importante apostar cada vez mais na qualidade do que se produz em Portugal que ganham especial importância, para a Herdade do Monte da Ribeira, os prémios que recebeu pelo trabalho dos últimos anos na produção de vinhos de muita qualidade, entre os quais se destacam os da gama Pousio e Marmelar.

A importância do vinho alentejano Em maio deste ano, os vinhos do Alentejo representavam metade dos vinhos com indicação de região vendidos em Portugal. Além disso, de acordo com os dados da Comissão Vitivinícola Regional Alentejana (CVRA), também têm um grande peso nas exportações, onde atingem um total de 20%.
Por esta altura, Francisco Mateus, presidente da CVRA, destacava que “o mercado nacional é muito bom e, em termos de exportação, os vinhos do Alentejo já são 20% do que Portugal exporta. Isto quer dizer que os vinhos do Alentejo têm uma qualidade que é reconhecida pelos consumidores”.