SNS. Maior investimento dos últimos dez anos vai dar um novo edifício ao IPO de Coimbra

SNS. Maior investimento dos últimos dez anos vai dar um novo edifício ao IPO de Coimbra


Projecto inclui ainda um aparelho único no país e duplicar as estações de quimioterapia, num total de 36,6 milhões de euros. 60% vem de receitas próprias. Presidente explica que é possível porque o “rigor na gestão” permitiu poupar  


Quando Manuel António Silva assumiu a liderança do IPO de Coimbra, as consultas eram feitas em pré-fabricados ao longo da Avenida Bissaya Barreto. Conhecia bem a instituição – começou ali a carreira de médico antes de se especializar em gestão de serviços de saúde. Passam 25 anos e muito mudou. Deu condições às consultas, remodelou a radioterapia. Hoje o IPO de Coimbra recebe mais de 7000 novos doentes por ano e emprega 900 pessoas. Se nos últimos anos tem havido investimentos pontuais, agora há um projeto de fôlego em curso. Manuel António Silva é o administrador há mais tempo neste tipo de funções no SNS, mas este não é o único aspeto singular no centro hospitalar: o projeto de investimento que têm em curso ascende a 36,6 milhões de euros e 60% são verbas do hospital, resultados positivos que foram capitalizando, explica o gestor. Por outras palavras, um “mealheiro” que António Manuel Silva atribui ao “rigor da gestão” nos últimos anos e que agora vai permitir concretizar a maior obra dos últimos dez anos, explica. Com este projecto em mente, tiveram entretanto um aumento de capital estatutário de 3,7 milhões de euros para a substituição de equipamento obsoleto e esperam vir a obter o restante em fundos comunitários e capitais próprios a autorizar pela tutela.

Radioterapia inovadora e obras A primeira peça do investimento no IPO de Coimbra foi apresentada esta semana com a presença do ministro da Saúde. Trata-se de um aparelho que permitirá sessões de radioterapia mais precisas, a chamada tecnologia de tomoterapia, que até agora não tinha nenhum exemplar em Portugal. Custou 4,5 milhões de euros.

O projeto do centro hospitalar inclui ainda a substituição de outros aparelhos obsoletos. Mas se esta componente tem um orçamento de 9,8 milhões de euros, é a parte estrutural de obras e remodelação de serviços que vai exigir maior investimento – 26 milhões no total.

A primeira fase já está a decorrer e abrange o edifício da oncologia médica, explica Manuel António Silva. Um dos objetivos é aumentar as  vagas para quimioterapia no hospital de dia e dar mais conforto aos doentes, exemplifica. Vão passar de 12 estações (os cadeirões onde se faz a quimioterapia) para 26. Além disso, serão instaladas quatro camas para os doentes poderem repousar. Haverá ainda mais espaço e melhores condições nos serviços de pneumologia e gastrenterologia.

Estas obras deverão ficar concluídas em Setembro, acrescenta o presidente do IPO de Coimbra. Já em 2017, arrancar a pedra de toque do projeto. Há dois anos adquiriram um terreno adjacente na expectativa de expandir o centro hospitalar e agora o projeto vai avançar, com a construção de um novo bloco operatório, cuidados intensivos e novas unidades de internamento. Este projeto, diz o responsável, vai custar 18 milhões de euros e a obra deverá ficar concluída em 18 meses, portando já em 2018.

Último legado O mandato de Manuel António Silva terminou a 29 de Janeiro e o dirigente ainda não sabe se sai ou se o governo o reconduzirá nas funções. Diz que gostava de ficar para concluir o projeto mas sublinha que, de qualquer forma, este é último investimento que tem em mente para o IPO de Coimbra.

Em tempo de vacas magras no SNS, admite que a disponibilidade financeira do hospital gera muitas vezes comentários entre colegas, mas sublinha que se limitou a gerir o orçamento que tinha e a garantir a prestação de cuidados à população. Segredos? Boa relação com os profissionais da casa, exigência e boa relação com os fornecedores. Numa altura em que a dívida dos hospitais está de novo em rota ascendente – os pagamentos em atraso atingiram 605 milhões de euros em maio – Manuel António Silva diz que não tem dívidas vencidas e que procuram fazer os pagamentos a 30 dias, o que dá vantagem nas negociações. “Não me lembro de terminarmos com saldo negativo”, diz .

No que refere às queixas dos gestores sobre perda de autonomia, admite que se sentem por vezes coartados nas decisões. Mas no caso dos investimentos, como têm folga financeira, acabam por sentir menos impacto. “Temos de pedir autorização mas só peço quando tenho dinheiro.”

Na apresentação do aparelho de tomoterapia, o ministro da Saúde elogiou a instituição. O trabalho que está a ser feito pelo IPO de Coimbra é digno do nosso respeito. Estes investimentos, e os que se seguirão, que estão neste momento em fase de apreciação, permitirão colocar o IPO de Coimbra na lista do que de melhor se faz em termos internacionais, servindo bem toda a região centro, com autossuficiência, e sem dependência de recorrer ao exterior do SNS”, disse Adalberto Campos Fernandes.

Noutros hospitais a realidade é diferente e orçamento não chega para os gastos e Manuel António Silva reconhece-o. O SNS precisa de “juízo” na gestão mas também de mais financiamento, vaticina. E sobre este capítulo, não tem havido ainda boas notícias.